29 de fevereiro de 2008

o momento mágico EXISTE!

Ibitipoca.
- Deixa, lá eu tiro dinheiro no caixa. Se precisar de um filtro solar eu compro na farmácia. E vou levar também algumas roupas mais bonitas para sair à noite.
Ah! Quanta ingenuidade! Na vila de Conceição do Ibitipoca não há caixas 24 horas, farmácia, nem hospital. Meu celular não pega e ninguém anda apressado. Existem 800 habitantes aproximadamente e todos são chamados carinhosamente de nativos. Tem também, várias casas de souvenires, mas todas só se abrem a partir de sexta-feira. Na verdade, esse lugarejo só deve aparecer nos mapas em finais de semana.
E eu, cheio de coragem, resolvi conhecer. Conhecer essa Ibitipoca que dizem ser tão perto de Juiz de Fora.
Não me falaram antes, que lá não existia o que eu queria e muito menos que de ônibus não se vai tão longe. Longe! 2 horas e pouca de viagem, em um ônibus (conhecido como jatão) incrivelmente assustador e indescritivelmente divertido.
No regresso eu me perguntei: - Vale a pena tudo isso?
E logo me respondi: - Vale tudo, tudo isso!
Na ida e na volta, na estadia, em todos os cantos uma visão maravilhosa! Uma aconchegante natureza que me gritava existir. Ruas de pedra e de terra que me diziam serem possíveis. Bares e lugares que nos abraçavam nos pedindo silêncio. Árvores e pássaros que cantavam na alegria de terem encantado mais um bobo humano.
Minha filha me impressionou e me fez pensar no mundo que deixei ela nascer. Isso porque quando ela nasceu, a primeira frase que proferi, foi a desculpas, me desculpei por colocá-la num mundo tão cruel e chato.
Eu não imaginava que estou sendo hipócrita. O mundo que disse não gostar é o mundo que mais respiro e vivo e ainda a faço viver desde pequena. A correria e a fumaceira em que vivo, ofereço a cada dia à minha filha e nem me dou conta. Não me dou conta de que a urbanização já me jogou o concreto da normalidade.
Mas ainda há tempo! Ibitipoca que me disse:
- Mauro, você precisa disso!
E eu preciso mesmo... Confesso que pensei em cada membro de minha família com o amor mais sincero e gostoso que já senti... Confesso que pensei na paternidade e já planejei diversas mudanças para 2008... Confesso que amei minha namorada e menti. Menti, contando aos nativos que aquela era minha família, que eu já havia casado e morava com elas.
Mas não faz mal! A energia que senti me mostrou que não há problema nessa mentirinha, afinal quando eu voltar tudo será verdade... Será verdade e eu já não me assustarei com o tédio e com a calma...