26 de abril de 2008

Indeciso, de Júlio Polidoro

Há muito meu pai participou de duas publicações do movimento poético de minha cidade - Juiz de Fora - mas há muito também, ambas acabaram, assim como o movimento desenvolvido por alguns "bicho-grilo" inteligentes. Um de seus grandes amigos, senão o maior, é hoje um grande poeta, que cultiva o hábito de produzir uma escrita linda, sensível e incrivelmente carinhosa e solitária. Um dos poemas que mais gosto do amigo Júlio é o que segue, capaz de transparecer um sofrimento calado e emocionante. Me sinto muito feliz, ao perceber que ainda há lirismo em algumas pessoas... ainda há sensibilidade... amizade ainda há... ainda há ótimas palavras.
INDECISO
Júlio Polidoro
Às vezes meu desejo
é não notar que tudo passa
e que envelheço na medida que envelheço
Por vezes meu intento é evitar
que a busca de um espaço me enlouqueça
que todos descubram
que devo dinheiro aos inimigos
ou saibam que nunca tive namorada
Às vezes eu me sinto muito bobo
conservando os costumes de família
e comprando queijo na mesma padaria
Às vezes é o provável do poema
não fosse essa carência
que sinto ao dizer que sinto às vezes


Júlio César Polidoro nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 29 de julho de 1959. Trabalha atualmente na área administrativa da Universidade Federal de Juiz de Fora, instituição onde freqüentou, sem concluir, o curso de Filosofia.O autor fez parte do grupo que atuou, na década de 80, em torno de duas publicações que marcaram época: o folheto Abre alas e a revista d’lira. Prêmio Cidade de Belo Horizonte, edição 1990, dentre outros de menor expressão, em 1979 Polidoro publicou o primeiro livro, Treze poemas essenciais, seguindo-se Pequenos assaltos (1990), Orla dos signos (2001) e Outro sol (2004). Participa de diversas antologias no Brasil e também de publicações em Portugal, Espanha, Itália e França, com poemas traduzidos.