15 de dezembro de 2008

1 real

Quem sou eu,
para tratar os seus vícios.
Os meus são piores,
meu bolso está cheio
de quereres seus,
tão velozmente consumíveis.
Meu peito,
transborda os desejos de um dia ser patrão.
Assisto filmes, escrevo versos.
Enquanto carregas areia e cimento,
sua matéria-prima é
obra de um vercejador.
Não. Me faz falta, não.
Esse um real,
tão irreal para mim.
Que me equilibro entre a verdade
e as incertezas de ser assim.
Não devo me culpar por ter entregue esse pouco,
tens a liberdade de um pássaro,
e esse pólen não me faz falta.
Para ti, pode virar mel,
Ou o mal.
Mas não quero pensar,
no mal que te dei.
Te ofertei,
como quem joga uma pratinha na cesta de domingo.
É. Eu peco.
E pago.
E peco.
E pago.
Até um dia em que não te encontrarei,
e terei que me arrepender.
Sim. Não me vejo,
Interpreto sempre.
Na verdade sou mais pobre que tu.
Sou menos sincero que tu.
Sou amargo.
Sou o cimento que usas nas suas obras,
obras de um trabalhador.
Porque vercejar não é labuta,
é serviço de puta,
que passa a noite fazendo,
trepando sentidos e palavras.
Você constrói a tarde,
a noite eu me desconstruo.
e dessa forma me questiono
sobre essa estranha identidade.
Quem?
Eu, apenas.