16 de janeiro de 2009

Entre Pernas

ou Pílulas de barulho para Potes de fragilidades

Porque na verdade, está entre as pernas o motivo maior de nossas fragilidades: o sexo. Mas não é somente o órgão. Somos frágeis pelo ato, pelo gesto e pelo assunto. Nossa maior fragilidade é diretamente proporcional à nossa virilidade, atividade. Temos de estar eretos para só assim nos construirmos fortes e seguros.
É poroso, os tijolos, meu amigo, que constroem nossa casa.
Não confio em mim. E não confio, porque me fragilizo. Minhas dores me induzem a situações diversas, me fazem confrontar com o desconhecido. Não confio em mim porque sou passível de sofrimentos, e pluralizo o verbo sofrer pois não sou um apenas, mas vários. Existem várias vozes dentro de mim, querendo gritar, numa verborragia do incompreensível.
A fragilidade dói, sim. Essa ferida é absurdamente sangrenta quando percebemos ser menores do que nossa idéia do que somos. O espelho é incapaz de retratar a realidade de forma praticável. Somos pequenos, de ossos pequenos e leves, de pele fina, de carne quase nula. Não somos o lixo, mas os autores dele, e por isso, fedemos também.
Poderia eu, listar infinitas fragilidades minhas, mas me atento nas que mais me trazem lágrimas.
Adoecer é a situação que mais me fere. É ruim não poder correr 200m e sentir-se mais jovem. É horrível suar, ter febre, tossir, espirrar... Só na doença conhecemos nosso lado susceptível, um extremo negro, que distanciamos. Porque, bem no fundo, temos ojeriza da morte, e tudo que a traz para perto.
Sou frágil também pelo tempo, que voa e que me cansa. Esse tempo passa, faz passar amigos, flertes, e até saudades. Com o tempo me canso dos amigos, dos trabalhos, do cotidiano. O tempo me deixa quebradiço, sem ninguém e sem perspectivas. Sou um desenho chapado sem cores e sem movimento.
E minha fragilidade está também no que não sei. E eu não sei muito. Jogar bola: não sei. Comer bem: não sei. Parar: não sei. E eu já disse: não sei confiar em mim.
Me arrisco a dizer que essa novela findada, A Favorita, só fez tanto sucesso porque trata disso que tanto nos assusta: a fragilidade. E o autor abordou a traição, que nos deixa mais espessos, num balé de insensatez e ódio. Me arrisco também a dizer que Roberto só é rei, porque é frágil, com suas doenças e amores. Nos atraimos pela fragilidade, porque anseamos nos curar de tantas feridas espalhadas.
Ah! O que fiz de mim? Que vejo em vocês?


Acordei. E pareço mais forte.


Me arrisco novamente: Para todos esses cacos que se fazem presentes, penso num antídoto. Porque quando estamos fragilizados demais, vivemos no silêncio branco e fosco.
Confesso, às vezes, o barulho se faz necessário. E uma paleta de cores para colorir o olho, para refrescar a alma e tingir nossas ausências.


Ou então, para livrar-se de fragilidades absurdas, esconda-se nelas. Faça-te um belo corpo e deixe-se transformar no que há entre suas pernas. Apenas isso, e será banal, como tudo que disse.
Me cansei do mais ou menos. Onde mora a soma?!