9 de janeiro de 2009

Minhas paixões no banho

Sou de amor fácil. Fácinho, fácinho. Sou de me entregar por inteiro, me envolver... E era nisso que eu pensava enquanto me ensaboava, enxagüava, secava e me vestia (pois é, não sou muito de me concentrar no inexpressivo). Sou de me apaixonar. Pior: sou de me apaixonar fácil. Não vê?! Cada dia gosto de um disco novo. Cada dia começo um livro novo. Cada dia descubro algo novo e: me apaixono.
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Sou desses de amor difícil, construo algumas barreiras para amar verdadeiramente.
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Eu pensava naquilo, durante meu banho. E tentei exemplificar, queria confirmar minha teoria de água e sabão, e essa é mais uma de minhas paixões: conseguir confirmar o que digo ou penso. Quando começo a ler um livro, adoro contar a história para as outras pessoas, já quando termino-o o tesão passa e não vejo mais a necessidade de contá-lo. Ontem mesmo, comprei o novo livro da Maitê Proença (diga-se de passagem, uma puta escritora!) e conto para todo mundo que encontro, sobre as primeiras páginas dessa (deliciosa) leitura. Agora eu te pergunto, eu ainda falo de "Rota 66"? Não! Esse livro (do Caco Barcellos) eu passei a amar. Já o "Assessora de Encrenca" da Gilda Mattoso, era só uma paixãozinha e nada mais, foi só fechar o livro para eu não sentir mais nada por ele.
E assim é com a música também. Tenho ouvido alguns cantores novos, e essa semana estou escutando Sérgio Ricardo e Beatriz Azevedo, meu deus!, meus amigos já se enjoaram de me ouvir falando deles e cantando as músicas e... quase gozando nesse êxtase do novo.
Entende?!
É bem assim: encontro uma idéia na rua, quando distraído estava, e começo a conhecê-la (- estamos nos conhecendo!). 10 minutos depois já estou envolvidíssimo, dou um beijo na minha idéia, levo-a para um motel, transo loucamente com minha idéia, me drogo com minha idéia, janto com minha idéia. À noite decido viajar com minha idéia, e vou à Londres com minha idéia, o melhor hotel para nós dois, muitas drogas, muito pró-seco, só eu e minha idéia. Transamos, beijamos e nos acariciamos à todo instante. No dia seguinte de conhecer essa tal idéia, volta ao Brasil, sem dinheiro, sem emprego e com uma terrível dor de cabeça.
Sou desses de desapaixonar rápido. Uma merda. Com uma exceção: amo cada vez mais a mesma mulher, a cada dia que passa, nesses 6 anos juntos.
Mas os amigos, o trabalho, o estudo, o cotidiano, tudo passa ligeirinho, com grandes surtos de paixão e despaixão. É uma esquizofrenia da paixão, uma constante instabilidade que me inspira e me gera mais paixões.
Porque na verdade, se pararamos para pensar, a vida seria muito sem graça se não fossem nossas paixões sorrateiras. Se tudo fosse como a linearidade do amor, as coisas seriam como o branco, as vezes, muito sem graça. Não que o amor seja sem graça, mas ele exige intimidade, quietude e por vezes, silêncio. Ah! O amor! Tão certo das coisas...Usa terno, gravata, pasta, lê jornal no café da manhã. Ah! O amor é elegante.
E eu vivo assim, nessa roda-gigante em que choro e riso se misturam e nunca deixam o blasè ressaltar. E só penso nisso tudo durante o banho, porque minhas paixões são tão rápidas que sou capaz de comparar seus tempos, aos minutos que gasto debaixo de um chuveiro. E quando as paixões resistem, troco de roupa com elas, coloco um pijaminha e durmo tranquilamente, para acordar amando, no outro dia.