16 de março de 2009

Alice em Rimas, numa bela experiência do Pirlimpsiquice

... e vá ao teatro!
Alguns especialistas acreditam que a obra máxima de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas, foi concebida através de uma onda de LSD do autor. Na tradução de José Paulo Paes essa característica (a alucinação) foi mantida com maestria. A adaptação de Cassiana Lima Cardoso atinge com mérito a intencional loucura do texto original . Mas, de início, questionei o uso dessa alucinação no teatro.
O jovem grupo de atores, Pirlimpsiquice (título de um texto do escritor mineiro, Guimarães Rosa), ousa não só na escolha da peça como também na escolha da montagem da mesma, mostrando ser válida, tal escolha.
Alice em rimas, no país das maravilhas conta a história de uma menina (Alice) que tem em sua mente uma amiga imaginária, o irmão, a mãe, uma fada e o Dr. Perdigão, personagens que transitam entre o real e o não-real, em discussões terrenas e emocionais. Quando Alice encontra a Bruxa da Consciência suas emoções são postas em jogo, dependendo do esforço dos amigos para salvá-la de um coração estagnado. O fim, é clichê (nem por isso, menos interessante): A menina se salva e todos vivem felizes e em harmonia.
O texto é bastante confuso, mas por se tratar de uma obra de Lewis Carrol, não há muito como contornar. Essa foi a escolha do grupo e é louvável trazer ao palco uma história surreal com sacadas tão coerentes com o mundo moderno. Questiono um pouco o público alvo, que certamente não compreendeu as ironias e os sarcasmos usados.
O ritmo da peça apresentou grandes falhas, com longas pausas e algumas dispersões. Um pouco disso se deve à cenografia, moderna mas mal utilizada. E esse ponto é de extrema importância para o atual teatro juizforano, que tem cada vez mais ousado no cenário sem ter o total domínio. Os obejtos cênicos não precisam ser modernos, mas práticos e precisos, não sendo assim, tornam-se objetos modernosos e infundados. Esse não chega a ser um grandioso problema de "Alice em Rimas", visto que, os objetos cênicos não foram muito utilizados. O grupo se focou na interpretação e esse foi o maior acerto, capaz de esconder as falhas cenográficas e o mau uso das projeções feitas em vídeo. A iluminação e a sonoplastia foram coerentes e contidas, sem prejudicar as cenas, mas também sem muito somar. O bom teatro esteve mesmo nos atores. Ótimos!
Leonardo Barbosa (Dr. Perdigão) e Cassiana Lima Cardoso (Bruxa da Consciência) apresentaram personagens completos e bem preparados, com boas impostações vocais (uma bruxa sem voz esganiçada, mas que nem por isso, deixa de assustar - uma excelente escolha!) e boas presenças no palco. Os outros meninos (as) também tiveram seus méritos (até porque, foi a portuguesa Cláudia Lázaro, a responsável pela direção de atores). Mas foi Márcia Andrade (a Amiga Imaginária) quem roubou a cena e fez da trama um belo espetáculo. Essa menina (que infelizmente ainda não conheço) deu destaque a um personagem que poderia ter ficado à sombra. Com belíssimo andar em cena, linda voz impostada e graciosidade nos gestos, a jovem Márcia se apresenta com brilho, no cenário teatral de Juiz de Fora.
O incrível figurino de Carlos Elias também merece destaque na obra, visto que, deixa de lado os clichês e ousa em concepções criativas e simples, capazes de dar um efeito cênico completamente inovador e lúdico.
Infelizmente, o Pirlimpsiquice se despediu dos palcos. O grupo acabou. Mas fechou com chave de ouro seus trabalhos, numa experiência que com certeza enriqueceu ainda mais o teatro em nossa cidade.
As cortinas se fecharam, mas as palmas continuam, merecidamente.
O grupo Pirlimpsiquice se apresentou com a peça Alice em Rimas, no País das Maravilhas, pela última vez, no domingo, dia 15 de Março no Teatro Solar.