30 de março de 2009

Corda Bamba

Ontem Ana Lúcia resolveu ousar um pouco.
Depois de quase um ano sem férias, sem sábados e passando todos os domingos à base de muita tv e filmes, Ana Lúcia chamou Luiza para ir ao circo. Luiza é fruto de sua relação com Paulo, aquele dono do maior hospital da cidade, um médico renomado e cheio de grana. Mas o casamento acabou em 98, e desde aquele Novembro, em que ela pegou ele na cama com sua amiga Maria Zilda, Ana nunca mais se divertiu.
- Lú, vamos no circo filha?! - perguntou sem graça a mãe.
Luiza riu, sem acreditar. Afinal, aquela quarentona nem mãe conseguia ser, era um engodo dentro de casa. A filha, passava os dias lendo no quarto. Luiza não era muito de internet, aprendeu nos livros à constituir a vida que sempre quis. A mãe? Ana Lúcia vegetava numa vida cheia de saúde.
- Lú, a mamãe tá chamando filha! Vamos no circo? - insistiu Ana.
- Ué. Vamos! - a filha riu amarelo, descrente.
A mulher entrou no quarto, pegou a toalha, ligou o som (hãn?! música? sim! iam ao circo!) e entrou no banho. Saiu cheirosa. Vestido preto, elegante e com uma rosa vermelha no cabelo, Ana saiu junto com a filha. Ana ria. Isso era estranho.
Eu mesmo, confesso que não via ela rir há muito tempo. Nem quando contei aquela fofoca da Dorinha. Mas Ana tinha sonhado com uma cobra, acordou toda molhada, e no caminho, não desviava o olhar dos volumes que lhe apareciam pela frente. Ana raspou a buceta, depilou o bigode e tirou a sombrancelha. Ana passou perfume. Perfume!
Bem na verdade, e eu a conheço, a saída não foi para a filha, mas para o coração.
Comprou o ingresso na portaria. Sentou-se com a filha na terceira fileira. Pagou uma pipoca e uma coca-zero. Não comeu, não podia sujar os dentes. Mascou um chiclete e melhorou ainda mais o hálito.
Luiza estava encantada. Na segunda-feira contaria a todas as amigas. Ela também tinha mãe, e todos precisavam saber disso. Tinha mãe e padrasto.
O padrasto foi a terceira atração daquela noite. Ana Lúcia suou frio quando viu Juan entrando para andar na corda bamba. Suas pernas ficaram bambas. Estava ali o que precisava. Um pênis grande marcando na calça justa de equilibrista e um lindo rostinho de peruano.
Essa mulher sorriu para ele, que logo no término do espetáculo foi conversar com ela. Pimba!
- Deixo Luiza em casa e te encontro no Gardênia. - sentenciou a "soletirona".
Mas engana-se quem apostou em 30 minutos no Gardênia. Ela sentou-se na mesa. Ele já estava lá. Depois de uma (1!) cerveja eles já estavam num ótimo motel. Transaram toda a noite. Semana passada ele foi morar com ela. Parecem que vão se casar.
Eu não confio muito nessa relação. Instável. Ele, artista. Ela, dona de boutique. Tão diferentes. Ele, na corda bamba. Ela, também. Afinal, Ana Lúcia ousa. Ousa sempre. Coragem circense.