3 de maio de 2009

Doce Deleite sem açúcar

... e prove um teatro!



O doce tinha tudo para dar certo, mas desandou. Tinha água demais, estava muito aguado.


Que doce? Doce Deleite, de Reynaldo Gianechinni e Camila Morgado, com direção de Marilia Pêra. A peça foi apresentada no sábado, ontem, no Cine Theatro Central.
Uma grande decepção esperava assistir e me deleitar com uma idéia interessante e atores não menos interessantes. Mas me sobrou um doce mole e sem açúcar.
A peça conta, numa metalinguagem, os personagens que povoam o teatro, como a bilheteira, o contra-regra, o dono, os atores, os famosos atores e o público. Encenada em 1981 por Marilia Pêra e Marco Nanini, o espetáculo foi um grande sucesso.
Em 2008, o produtor Eduardo Barata, convidou a protagonista da época para dirigir uma nova montagem. E Marília é famosa no esmero com que trabalha, ela exigiu aulas de canto e balé aos atores globais. Foi pouco.
As bagagens artísticas de ambos são afloradas e escancaram uma diferença abismal entre ambos. Camila Morgado, conhecida por encenar papéis densos e fortes dá luz à personagens cômicos e tenta (com algum sucesso) dar-lhes caracterização e vida. Já o Reynaldo Gianechinni, o sempre galã da Rede Globo, se perde em seus papéis, caracterizando de forma superficial os personagens que lhe são dados. A entonação de Giane é a mesma em toda peça, os gestos e a face também. As diferenças não geram química no palco e muito do que é apresentado parece forçado e inexpressivo.
A direção de Pêra é indiscutivelmente visível. A asserção de muita música e muita dança não colaboram com o ritmo, além de mostrar que os atores ideais não sãos os escolhidos.
O cenário proposto apresenta uma boa sacada: os camarins. As trocas de roupas são feitas no palco, com camarins escondidos atrás de transparentes panos brancos. O que fortalece a metalinguagem e cria intimidade entre espectador e ator. A escolha por colocar em cena os contra-regras (que também são atores) corrobora essa idéia e homenageia essas boas figuras do teatro.
Mas a tal intimidade entre nós e eles extrapola o aceitável. Não percebo acerto em convidar atores globais e dotados de apelo para contracenar uma peça que saúda essa arte dramática. Termos e personagens teatrais não são reconhecidos, visto que o público é formado (quase
integralmente) por pessoas que não vão ao teatro, preferem novelas, e preferem as novelas que
tenham Giane e Morgado (putz! também fiquei íntimo!).
Na cadeira atrás da minha, uma senhora, depois de 20 minutos de peça, disse ao marido: "Parece que fala sobre teatro!". Definitivamente, a homenagem perde sua finalidade e recai num besteirol, cheio de piadas obscenas e estereótipos. Isso é ruim? Não sei. Não esperava.
O figurino é cuidadoso e belo, mas frágil como todo o cenário. Espera-se mais. A iluminação é simples, como a trilha (composta por Amora Pêra e Paula Leal - aquelas das Chicas). Enfim, são 1 hora e meia de muitas besteiras e execuções óbvias. A proposta de louvar a arte teatral, escrita por Alcione Araújo, perde-se em apresentações sem gancho entre si e completamente caricatas. Resta apenas uma faixa acima do cenário, com figuras importantes.
Mas pensando bem, meu maior erro foram minhas expectativas. Quem nem sabia do que se tratava, gostou.
Então...
Não gostei muito do doce. Não me deleitei. Mas dizem que ainda tem uma rapinha.
Há quem goste de rapa.
Então...
Prove!