
Já no ônibus teria que exercitar a simpatia. Não poderia ser forçado. Deu certo. Sorriu para quem sorria-lhe, e até para quem nem olhava-o, ele olhava com olhar sereno e afável. Na faculdade as coisas pareciam diferentes nesse novo prisma. Tentava cumprimentar os que conhecia. Não obteve sucesso em todas as vezes, até porque é quase impossível reverter o que em 2 anos se lutou para descontruir: a segurança.
Aquela menina. Sabe?! Aquela menina que ele conta aos sete ventos que é uma piranha e tudo mais. Foi simpático com ela e, envergonhado, percebeu que ela nunca lhe fora antipática. Era questão de estar despido. Aquela outra, que ele julgava retardada e burra, lhe foi inteligentemente agradável. Aquele outro, que lhe amarga raiva e por vezes já lhe despertou inveja teve a coragem de cumprimentar-lhe com um toque no ombro. Meu Deus! Ele havia traçado um monstro no próprio espelho.
Sua amiga disse-lhe que seu andar parecia humilde. Sim! Até seu andar transmitia a arrogância de um ser completamente superior. É assim. Nos pequenos detalhes dotamo-nos de características inconseqüentes e absurdas.
Frustrante. Triste. Amargo. Gostoso. Novo. Todos adjetivos que caberiam naquela tarde/noite. Por fim, com alguns escorregões, voltou para casa. Era preciso aplicar a tolerância e a delicadeza também em casa. O exercício lhe cansou. Ainda estava no início.
Dormiu. Com um sorriso no rosto e outro no coração.
(continua...)