1 de junho de 2009

A arrogância mora em mim - Parte I

Ele acordou disposto a mudar alguma coisa. Precisava se abrir, desarmar, tentar, mesmo que ainda não surta efeito, ele precisava tentar transformar-se, sentir aceito e querido. Cansara de hostilizar e como troca receber os mesmos olhares hostis. Já havia percebido que o problema morava nele, naquela testa franzida e naquele tom de superioridade com que balbuciava cada letra. Sua arrogância morava em suas fragilidades e era a arma mais potente que conseguia exibir. Não! Agora tinha a extrema certeza de que não era melhor, também não era pior, era mais um. Aquele discurso de que não queria ser mais ou menos já não se relacionava com sua postura social. Existem pessoas que somam sendo humildes. É isso. Hoje ele acordou para ser humilde.
Já no ônibus teria que exercitar a simpatia. Não poderia ser forçado. Deu certo. Sorriu para quem sorria-lhe, e até para quem nem olhava-o, ele olhava com olhar sereno e afável. Na faculdade as coisas pareciam diferentes nesse novo prisma. Tentava cumprimentar os que conhecia. Não obteve sucesso em todas as vezes, até porque é quase impossível reverter o que em 2 anos se lutou para descontruir: a segurança.
Aquela menina. Sabe?! Aquela menina que ele conta aos sete ventos que é uma piranha e tudo mais. Foi simpático com ela e, envergonhado, percebeu que ela nunca lhe fora antipática. Era questão de estar despido. Aquela outra, que ele julgava retardada e burra, lhe foi inteligentemente agradável. Aquele outro, que lhe amarga raiva e por vezes já lhe despertou inveja teve a coragem de cumprimentar-lhe com um toque no ombro. Meu Deus! Ele havia traçado um monstro no próprio espelho.
Sua amiga disse-lhe que seu andar parecia humilde. Sim! Até seu andar transmitia a arrogância de um ser completamente superior. É assim. Nos pequenos detalhes dotamo-nos de características inconseqüentes e absurdas.
Frustrante. Triste. Amargo. Gostoso. Novo. Todos adjetivos que caberiam naquela tarde/noite. Por fim, com alguns escorregões, voltou para casa. Era preciso aplicar a tolerância e a delicadeza também em casa. O exercício lhe cansou. Ainda estava no início.
Dormiu. Com um sorriso no rosto e outro no coração.
(continua...)