3 de agosto de 2009

Dias a fio

Acordou, abriu a janela e viu que não daria muita coisa. Um dia nublado, cheio de preguiças e desgostos. Dia mundial da ressaca, da cerveja bebida aos risos e das transas não feitas. Dia internacional do desassossego, da desconjuntura, das pragas não validadas.
Dia nacional do combate aos vermes, da luta contra os vírus, do horror aos doentes e doenças. Dia em que o município se vira contra os bons ares, as lindas gramas, os frutos maduros e as folhas verdes. Dia universal do sexo pago, do amor descompromissado, das paixões platônicas, dos cigarros que queimam e se apagam sem ao menos uma tragada. Dia do poeta irreconhecido, do escritor falido, do professor drogado, do engraxate rei. Dia da perna de pau, do nariz de palhaço, da maquiagem borrada, do chimpanzé dando tchau e da política mau feita. Dia do cansaço vespertino, da falta de dinheiro, do cheiro de estragado e da geladeira vazia. Dia de chuva na vidraça, calor no banco do ônibus, frio na plataforma do metrô e medo nas ruas. Dia de combate a vida. Dia de reinventar.
Saiu de casa, não sem antes dar um grande bocejo seguido de um longo sorriso.