26 de outubro de 2009

Pra ver a banda passar

Que gritaria era aquela?
Logo no seu jantar, parecem fazer festa.
Estava com fome, mas agora, estava desorientado com tamanha gritaria, e então, resolveu olhar pela fresta da janela porque se dava tamanha confusão.
Era uma vizinha, que gritava a morte da mãe, que clamava pela presença, agora impossível, da mãe. Mãe que sempre morou por perto, sempre cuidou dos filhos e netos, sempre emprestou dinheiro, sempre amou sorrindo e brigou sorrindo.
- Mãããããeee... Minha mãezinha!
Aquela frase ressoava nos ouvidos do menino, que agora, arrastara uma cadeira para próximo da janela e contemplava a cena como um lindo filme. Deveria ser uma trama dramática, daquelas em que o final te cala e as lágrimas se represam nos olhos.
O menino, prostrado, observava cada gesto daquela solidão avassaladora. Olhava e pensava nas tantas pessoas que não poderiam ir jamais. Pensava na avó, já velhinha; na mãe, tão distante e próxima; na namorada, que ele namorava e ela não. A cena parecia avisar-lhe de que tudo é passageiro e os momentos eram intensamente importantes. Mas os sentimentos não eram tão clichês assim.
O garoto, agora mais velho, avistava a cena e sentia chegar a leveza e a serenidade dos mortos. Sentia também, a impotência de todos os seus desejos, e a sua estúpida pequenez. Seu tamanho minúsculo diante das certezas dos fatos. Seu tamanho minúsculo, que pretendia crescer e mudar tanto.
A filha acalmou-se. A mãe, realmente, havia morrido. O menino levantou-se. A fome passou.
Levantou-se e seguiu para a cama. Aquela frase, ressoava em sua cabeça. Era difícil amar quando as coisas se acabam.
Fechou os olhos e dormiu. Dormiu para acordar e amar um pouco mais. Era preciso.