30 de dezembro de 2009

Carta de um ano bom

Paris é linda. Indiscutivelmente, uma cidade de tirar o fôlego. Cheguei na semana passada, e essa semana já me sinto mais adaptado, com o francês fluindo melhor e entendendo certos gestos e manias.

Ao entrar no avião, pela primeira vez, me emocionei logo de cara. As nuvens parecem algodão doce. Ao meu lado, uma francesa legítima, dessas de salto alto, meia fina e tailleur, tudo preto, com pequenas bolinhas brancas numa blusa bufante que escondia atrás do terninho. Não deu uma palavrinha, talvez, para ela, avião já fosse sinônimo de tédio. Para mim, que deslizava no avançar dos segundos, foi um momento excitante e com direito à algumas lágrimas.

A Torre Eiffel, gigante e suntuosa também me rendeu algumas lágrimas. A França não é tão colorida, quanto meu quarto, minha rua, minha cidade, meu país. A França é pálida. É de um cinza desconcertante e melancólico, mas pisca. E tudo que pisca me enche o coração de esperança. As avenidas parisienses me deram muita esperança.

Visitei ontem, a Paris VIII, fiz contatos e me diverti desenvolvendo um sem número de desejos naquele espaço intelectualmente agradável. Conheci também a Notre-Dame, me apaixonei pela Mona Lisa e me impressionei com algumas "favelas", bem mais chiques do que por aí. No fim de semana fui até a Espanha e conheci a tão sonhada Ciudad Real, terra do mestre Almodóvar. Voltei já me sentindo realizado, poderia regressar ao Brasil.

Poderia ao menos matar a saudade daqueles que deixei com o coração apertado; ou, quem sabe, me desculpar com aquelas as quais sempre quis bem; ou, até mesmo, abraçar aqueles tantos que me senti aflito por demonstrar tamanho carinho. De longe, as coisas mudam de forma. Na saudade os ventos sopram diferente.

Voltaria para buscar quem amo. É verdade que de alguns já esqueci. Mas outros, guardo com afeto nas minhas melhores lembranças. Quando voltar, arrumarei a cama, cuidarei de tudo, só para dormir com a cabeça um pouco mais leve.

A França é linda. Com minha xícara num desses cafés, fumando um cigarro e lendo o Le Monde percebo o quanto estou em concordância com essa terra. Paris deve ser linda.



Espero que no próximo ano, tenha eu, sabedoria o bastante para tornar certas histórias e certos sentimentos um pouco mais reais.



Feliz Dois Mil e Dez!