6 de janeiro de 2010

O que dizem

Era preto. Bem preto. E brilhava sob o sol de 40º de Copacabana naquela manhã de início de verão. Andava como se desfilasse no sagüão do Hotel Fasano, remexendo vagarosamente o traseiro de um lado para o outro. Os olhos, pequenos olhos negros, lembravam as miúdas jabuticabas que Laurice usava no rosto de suas bonecas, acreditando ofertar-lhes o poder da visão. O rabo - Que belo rabo trazia! - balançando-o ao sabor do vento, que ralo, mal chegava ao Leme. Aquele bichano me distraiu por alguns minutos, enquanto atravessava a Avenida Atlântica, em meu primeiro dia hospedado no Hotel Santa Clara, no bairro Peixoto, onde construí toda minha infância, numa pequena casa à uma quadra da hospedaria.
Dizem por aí que gato preto, quando passa a sua frente, traz azar.
E ele, sabendo que não traria maravilhas a minha vida, desviou-se de meu caminho, correndo entre os carros que já faziam fila à minha frente. Bobo gato. Não acredito no que dizem por aí.