27 de abril de 2010

Rouge

Hoje acordei com coração espumante de saudades. Acordei jato forte de alegria, libertando a rolha e rebentando no teto. Aqui, de vestido vermelho e despida do batom da noite passada, me recordo. Defronte a mesa desfeita, ainda com cheiro de sexo e festa, beberico a última gota de vinho restante na taça. Mastigando folhas de rúcula e restos de queijo, esfrego em meu corpo as mãos delatoras dos anos vividos. Salto indo para a sala, balança os cabelos que agora são negros. Hoje acordei do lado esquerdo da cama, joanete doeu, amanhã vai chover. Hoje eu sempre sei amanhã. Da janela acendo o cigarro que apago na pia do banheiro. Os ventos que entram já nem me sacodem um risco do face, mas secam as lágrimas da falta. Penso na sua roupa, nos seus gestos e na suas mãos. Lembro do perfume e da cor dos lençóis. Hoje acordei levedo, dor de cabeça e cheiro de uva. Saudades. Acordei lembrando do nosso maternal e dos vestidos que guardei para você.