5 de maio de 2010

Nossa, senhora

Um louco. Uma lésbica. Uma drogada. Filhos de D. Laurinha.
- O mundo anda muito perigoso, meu filho - falava, em sua voz baixa e mansa.
O mundo, realmente, merecia muitos cuidados. A rua estava movimentada demais. Os carros já não paravam para senhoras com sacos de frutas atravessarem. Diziam, até, que balas se perdiam no meio de pessoas trabalhadoras. Sair de casa demandava todo um praparativo, para não ser assaltada, não cair em buracos, não pisar em caca de cachorro, não ser atropelada, não ser ludibriada. E, assim, D. Laurinha se cansou dos medos de fora.
Pobrezinha. Pobre Laura, nascida na roça do Sul de Minas, filha de mãe parideira e pai carpinteiro, menina que largou a escola na quarta série para aprender o ofício de remendar pano velho. Pobre Laura, que nasceu na esperança de olhar para o verde e esperar madurar. Pobre, casada com um operário beberrão e mãe de três merdas.
- Não! Meus filhos são uns amores. Meus amores perdidos - resmungava com sua boca murcha e com um leve borrão na cor vermelha.
D.Laurinha, esmirrada em seu corpo frágil, ia da cozinha para o quarto, em passos sempre presumíveis e ritmados. Fazia seu café doce e voltava para a cadeira, onde fazia fuxicos e emendava-os numa colcha que jamais terminou. Durante anos manteve a rotina.
A tal rotina só acabou quando presa ficou em sua rede. Os fuxicos formaram uma extensa e grossa parede de pano. Uma teia que engole a aranha. Teia que livrou D.Laurinha dos terrores de dentro e de fora de casa.