7 de julho de 2010

Casa cheia

Nunca gostei muito das loiras. Nunca me chamaram a atenção. Preferi morenas. Talvez não gostasse pela lembrança do gosto amargo da folha. Ou não gostasse pelo tom amarelo que nunca consegui combinar com minha saias que variavam entre o vermelho, o preto e o azul. Amarelo nunca combinou muito comigo. Sempre preferi a discrição. Lembro de mamãe:
- Se quer assim, queira calada.
Lembro também das amigas que fui encontrando, e que achavam transgredir o que já foi transposto há milhares de anos. Amigas loiras, com gostos duvidosos e discursos sempre finos, diferentes de suas vozes.
Mas olhos verdes sempre me foram decisivos. Sempre fui adepta ao verde. Sempre ligada às cores. Sempre pintando tudo que me aparecia à frente.
Há anos conjugo o verde dos seus olhos, com o amarelo - quase castanho - de seus cabelos e o vermelho de meu rosto, inteiro apaixonado. Escrevo enquanto me encanto, me envolvo ao macarrão borbulhando. Mastigo, me encanto. O gosto do amarelo, do verde, agora saciam minha fome.