13 de julho de 2008

As melhores palavras dos "Amigos" de Maria Adelaide Amaral

Já li. Sim! Já li muitos livros... Não todos... Longe disso. Mas já li alguns.
Dessa vez é diferente. O livro, ao qual irei me deter, não foi escrito por Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Ruy Castro nem Lya Luft. É de uma portuguesa que invadiu o Brasil e nos mostrou a qualidade de seu dom para com as palavras.
Maria Adelaide Amaral é a autora de "Aos Meus Amigos" um livro que fala sobre... Fala sobre o quê mesmo?! Eu poderia dizer mil temas aos quais a autora se refere, mas acredito que a amizade seja o mote maior de todos parágrafos. Não essa amizade que minha geração conhece. A amizade dos amigos de Maria Adelaide (o livro é baseado na realidade, todos os personagens são amigos da autora) é algo que transcende o dinheiro, a classe social, a religiosidade, o carnal, é um encontro de almas afins que se entendem na emoção. É algo maior, meu caro! Só os que viveram nas décadas de 60, 70 e 80 tiveram o prazer de conhecer e experimentar.
O livro se passa no período de um único dia, em que todos os amigos são contactados por causa da morte de Léo (inspirado no jornalista Décio Bar). Passa-se o velório e todos vão para a casa de Lúcia, afogar as mágoas e alimentar as dores. Num período cronológico absurdamente curto, Maria Adelaide desnuda todos os personagens e retrata-os de forma crua e sensível. O dia é denso e tenso, e todas as sensações podem ser sentidas pelas escolhas da autora, que desenha cenas e emoções de forma espetacular.
O suícidio de Léo é a chave-mestra para despertar em todos os presentes as amarguras de anos vividos à sombra. A delicadeza, a sutileza, a sensibilidade são resgatadas pelos amigos que há muito tempo não se permitem sentir o que sentiram nos momentos que viveram juntos.
Um livro que fala da Ditadura Militar, da Literatura americana e européia, dos círculos sociais, da espiritualidade, da saúde mental e física, das relações afetivas, das relações sexuais, da inspiração... Um livro assim não poderia ser ruim.
Essa grande escritora vai muito além. Faz poesia. Faz uma bela elegia.
Eu chorei. Chorei do início ao fim, por ler em cada frase os momentos que sinto saudades de nunca ter vivido. Senti a cada linha e palavra as sensações de entes muito próximos que tiveram o mesmo prazer de Maria Adelaide. Senti uma enorme emoção por perceber as tantas sensibilidades... Sensibilidades de Léo, Lena, Ivan, Tito, Pingo, Raquel, Lúcia, Ucha, Adonis, Benny, Caio, Bia, Flora... Sensibilidades que não me são permitidas compartilhar com meus amigos do século XX. Porque minha geração é construída com muito concreto e cifras. Os amigos de hoje são assim. Ou não!
Para os que ainda não acharam a sintonia. O livro "Aos meus amigos" inspirou a mini-série do início do ano na Rede Globo "Queridos Amigos". Mas sobre a mini-série falarei numa próxima oportunidade. Ou coragem... Porque como eu disse, aos prantos, à minha tia, quando eu lia a página 200, só consegui terminar essa leitura, porque tive muita coragem e perseverança.