17 de dezembro de 2010

Notas avulsas

Primeiro ensaio

Mãos que seguram o queixo. Olho cravado no céu. Aguarda a luz acender e ri. Só ri. Depois diz: “Como as coisas são engraçadas”.
É. Essa parte é bastante difícil. Exige timing. Não pode cansar a plateia, porque senão ela dispersa. Tem que atrair no início. Depois de uns 10, 15 minutos a plateia já está convencida de que vale a pena. Ou não. Mas não vamos pensar em fracasso. Pensemos no sucesso, e essa parte é importantíssima. Refaçamos:
Mãos que seguram o queixo. Olho cravado no céu. Aguarda a luz acender e ri. Só ri. Depois diz: “como as coisas são engraçadas”.
Eu se fosse você, repetiria mais umas 3 vezes. Mas repita sempre em números ímpares. Nada de par. Nada de equilíbrio. Na encenação não deve haver equilíbrio.

Segundo ensaio
Rindo e parando de rir diz: “Às vezes nem eu me reconheço mais. Sempre gostei de caricaturas, mas essa não é fiel”. Sério, olha para os pés, respira fundo e diz: “Tudo bem que nenhuma cópia reproduz fielmente o que a gente acredita já ter pisado. Algumas pedras são mais pontiagudas do que sentimos. E a sola dos pés sempre é mais grossa do que imaginamos”.
Isso. A parte inicial a gente ensaia depois. Essa parte é forte. Exige muita concentração. Até que estava bom, mas eu vi mais emoção do que pedia. Tem que diminuir, ficar mais calmo. Está nervoso? Não pode. A encenação não é espaço para ansiedades. Tem gente que, até diz que encenar é livrar os bichos interiores. Ainda não formei minha opinião, mas te digo que deve estar mais concentrado.

Terceiro ensaio
...
Não vai começar? Não decorou?
Não está com vontade?
Eu já devia ter percebido. Difícil mesmo encenar desse jeito. Pare suas encenações. Pare de atuar durante o dia e eu te espero nas próximas noites.