27 de dezembro de 2008

As viagens de um casal

"Como castelos nascem dos sonhos, Pra no real, achar seu lugar" (Léo e Bia
- Oswaldo Montenegro)


No site,
Na estação,
No quarto.
Léo e Bia se correspondiam há uns bons meses quando entrou Dezembro, e esse mês não permitia internets, mas aconchego, aproximação e beijos reais. Dezembro é mês de realidade e eles se deram conta disso.
Léo saiu da cidade de Antares, no sul do Brasil, para encontrar Bia, bem na costa sul-americana. Juntou dinheiro com um trabalho de férias e decidiu-se por passar o primeiro Natal longe dos pais. Fez a mala cheia de certezas e segiu cheio de insegurança. Ele é menino novo, inexperiente, crescido no aperto da liberdade e no cheiro de mato e grilos. Ela, urbana e perspicaz, menina moça, dessas do tempo de faculdade. A atração se deu pela honestidade de sentimentos e quereres, mas a química...
Puta que o pariu. Eles não pensaram na química durante todo esse tempo gasto em infindos bate-papos pela www.
Bia, apesar de urbana tinha uma queda pelo r da "porteira" dita em São Paulo e Goiás. Léo, apesar de interiorano, tinha atração pelo movimento, tanto que aprendera a fazer malabares, com o intuito de ver cores e luzes com a rapidez dos carros e boates das grandes metrópoles.
Eles seguiram até Dezembro.
Ele cortou os cabelos (Putz! A cabeleireira quase o fez mudar de idéia. Talvez ali mesmo, em Antares existisse seu grande amor. Mas não era real) e embarcou no velho e estranho ônibus, rumo à 20 horas de viagem.
Já a menina moça, passou muito perfume, escolheu a melhor roupa e seguiu rumo à rodoviária, com o coração batendo forte e com o vestido roxo mais curto do mundo.
Um ônibus de Antares parou na estação. Desceu um passageiro... A calça era jeans...
Não era Léo.
Outro ônibus de Antares parou na estação. Desceu um passageiro... A bermuda era jeans...
Não era Léo.
Mais outro ônibus de Antares parou na estação. Desceu um passageiro... o tênis era preto...
Não era Léo.
Pararam vários ônibus. Desceram várias pessoas. Nenhuma era Léo. Até porque Bia não sabia como Léo se vestia e porque também faltava ainda 1 hora para que o ônibus dele chegasse.
O coração daquela garotinha batia absurdamente rápido e quase descompassado. Ela quis ir ao banheiro; quis comer, comer, comer; quis tomar um whisky; quis até fumar um cigarro.
E enquanto ela queria tanta coisa, o celular tocou. Era ele:
- Bia, cheguei!
Meu Deus! Agora era tudo ou nada.
De início era nada, eles falaram do tempo nublado de Dezembro, falaram de orkut, falaram com ciúmes e excitação por reconhecer o que já conheciam há 100000000 km de distância.
Léo abraçou Bia. Bia olhou para ele. Ele entrelaçou as mãos na dela e ela sentiu o coração esquentar. Ufa!
Até que enfim chegaram ao apartamento. A porta se fechou e conheceu o quarto daquela que nem a web cam era capaz de transmitir com tamanha fidelidade. O real é melhor não é mesmo?!
Passou o Natal. Passou o Ano Novo. Entrou o Ano Novo. Começou o amor novo.
E eles?
Eles (também) souberam amar...
[acho que dessa vez, a Coluna, continua...]