14 de janeiro de 2009

Arapucas: de afeto e de rua

Na porta do escritório '3Three' Raul pede carona para a também paisagista Amora. Eles estavam suados com o calor escaldante de Dezembro. Amora e Raul desceram até a garagem e lá estava aquele carro vermelho, cheio de compras nas poltronas traseiras e um pingente de flor pendurado no retrovisor.
Raul, abrindo a porta, puxa um assunto:
- É que meu carro foi trocar a embreagem. Amanhã eu pego de volta.
- Não esquenta Raul, onde você quer ficar? - diz, Amora, super nervosa.
- Aqui perto, no condomínio do Zeca. Marquei com ele de visitar aquele shopping que encomendou alguns serviços.
- Putz! Natal é época que a gente esquece tudo né?! Esqueci de orçar aquelas novas orquídeas que a Lia me pediu. - e ainda completou - Mas tudo bem, amanhã eu faço isso.
Um novo silêncio páira no ar. E novamente, Raul tenta uma conversa:
- Ainda não acredito como o prefeito pode deixar plantarem essas árvores em plena avenida. São impróprias. São usadas só na Europa, precisam de outro clima pra florir.
Esse garotão estiloso de 28 anos parece tenso com o silêncio desta morena de 25, recém chegada à empresa.
Amora, como que pensando alto:
- Esses sinais demoram demais. As vezes a noite, te confesso, que não páro. Aqui não pode dá mole.
- Tá namorando, Amora? - num rompante ele pergunta.
- Raul... Já ouvi falar de suas armadilhas. Não estou para me envolver...
- Ah! Esse pessoal é foda!
- E seu filho? Você tem um filho não é mesmo? Ouvi aquele dia na mesa.
Amora, se referia à última festa de confranternização da '3Three'. Nesse dia houve um amigo oculto e ambos se tiraram. Ela presenteou-o com uma camisa que ele adorou e não tira do corpo. Já ele, deu-lhe um colar e um brinco, que estavam em seu pescoço e orelha no dia da carona.
- Ele tá bem. Não tenho visto muito o moleque. Tá numa idade que sair com os pais é mico - respondeu o rapaz, e ainda disse - Eu queria ter falado mais de você naquele dia, mas você me desconcerta.
- Não é bem assim, disse a morena, secamente.
Tinham se passado apenas 5 minutos. Raul quem olhou o relógio. Raul, o mesmo que passou a mão nos cabelos e aproveitou para admirar os fartos seios daquela que ladeava-o.
- Queria te chamar pra sair. Sei lá... Pegar um cineminha.
Quando ele acabou de soltar aquele convite, percebeu que Amora já tinha aumentado o som do carro. Porra! Raul, você não deveria ter falado agora! Fala de novo.
Não! Ele não vai falar de novo. Chegou o condomínio do Zeca. Ele deu um beijo demorado na bochecha rosada daquela mulher e desceu meio chateado.
Amora ficou parada ainda uns bons 2 minutos, pensando em tudo que tinha ouvido daquele deus-grego. Ela tinha ouvido muito mais do que ele tinha falado. Ela ouviu o convite. Mas ficou com vergonha, porque só pensava nele desde a festa de confraternização. Ela viu ele entrando no prédio do amigo, pensou, pensou, sonhou, beijou-o ardilmente e arrancou com o carro.
Raul foi até à garagem de Zeca, nem subiu para falar com o amigo, pegou seu carro e foi para a casa. Aquela era mais uma armadilha do mais namorador da empresa. Do cara que já comeu a faxineira e até a gerente da 3T. Mas dessa vez, ele estava perdidamente apaixonado, e não sabia se era pela morena de coxas grossas e bunda grande, ou se era pela independente mulher que lhe apareceu na vida.
O fato é que Amora, logo que saiu dali, ligou para a amiga Consuelo. Amora demorou até achar o celular, discou enquanto o sinal estava fechado. Ficou verde, ela acelerou e Consuelo atendeu:
- Consú, eu devia ter falado mais amiga.
Uma freiada. Um barulho ensurdecedor. Um grito:
-Consúúúú...
***
Horas depois... O repórter Virgílio Etéreo, do folhetim O Globo, faz uma pergunta ao Major Velasco.
No dia seguinte, ladeado por uma foto estarrecedora, o jornal citava o Major:
"É. A (rua) Barata Ribeiro é uma arapuca. Uma armadilha na cidade do Rio de Janeiro. E arapucas como essas podem ser fatais."