2 de março de 2010

entre dentes

Sorrindo o menino corria em direção ao portão. Olhava a rua e sorria, durante uns 30 minutos diários. Quem passava não entendia. Quando passei não entendi por completo, mas sorri.
O menino que sempre vestia uma blusa vermelha em granfalhos e uma curta bermuda amarela manchada por água sanitária não falava com ninguém, apenas observava. Os olhos de criança respingava um certo desconsolo que me intrigava, quando passava pela tarde.
Os meus horários dificilmente mudavam, por isso, encontravamo-nos todos os dias. Todos os dia o menino no portão. Os pés sujos de terra indicavam ter se divertido antes.
Por várias vezes comprei um picolé na praça, próxima a casa do menino, para contar o tempo que ele ficava com o pequeno rosto entre as grades do portão.
Ele não esperava a mãe, nem o pai. Talvez nem os tivesse.
Ainda não sei bem o motivo, mas vê-lo me doía.
Numa dessas tardes comprei-lhe uma caixa de bombons e resolvi entregar-lhe quando passasse a sua frente. Sorri com a boca entreaberta e não lhe disse nada. Apenas troquei meu caminho. Nunca fui de me envolver. Prefiro sempre o silêncio e a luz cerrada de minha casa.