9 de agosto de 2010

Pela primavera

Ontem Amália abriu as portas do hotel, colocou um jarro de rosas vermelhas na bancada da frente e bateu três vezes na parede o tapete da entrada. Gritou à Flora e pediu que lavasse o hall. Quase na hora do almoço, borrifou todo o seu vidro de perfume na sala de espera e ligou o aparelho de dvd recém comprado. Vestiu uma saia rodada, sua blusa da missa passada. Pendurou os brincos mais douradas da pequena caixa de preciosidades. Beijou o retrato do marido pendurado na cozinha do restaurante. Fumou o último cigarro. Bebeu a última dose do vinho do natal passado. E, enquanto ouvia Roberto Carlos dançava cheirando o ar.
Ofélia despitando, olhou pela fresta do portão. Rita passou três vezes pela porta para ver o que acontecia. Laura simplesmente não entendia.
Quando o sol se pôs, sentou-se, aos prantos, para agradecer pelo primeiro dia da primavera. A estação chegava no fim do mês. A primeira hóspede dos últimos três anos deveria ser recebida em festa. E assim foram os dias do resto do ano. Amália já não almoçava sozinha.