24 de janeiro de 2011

Ohando a dissolução das nuvens

Sentada, com a cadeira levemente entortada para a esquerda, Maria bebericava o café. Manhã. Às 7 Maria abre um olho. Às 7 e 10 o outro. Às 7 e 20, os dois juntos. Às 7 e meia rola de um lado para o outro. Às 8 já está de pé, dentes escovados e café no fogo. Prefere quando a água ferve. Às 8 e 10 Maria está sentada, com a cadeira levemente entortada para a esquerda, na sacada da sala, olhando o movimento da rua e tomando café. Café e pão com manteiga sustentam até chegar o almoço, que chega por suas mãos furadas da agulha que já tem um furo muito menor do que há 20 anos atrás. Hoje, a rua está mais acelerada, mal dá pra ver o rosto dos que passam. E passam rápido, com sacolas, com sorrisos e cigarros. Hoje, talvez, o sol já tenha esquentado a cadeira. Se enxergasse as letras, pegaria o jornal estendido na portaria do prédio. Mas nem tem tanto tempo. O dia está para começar no silêncio que fará a espera para dormir.