25 de janeiro de 2011

Tintas de João - Parte I

Difícil mesmo não se embriagar com o azul quase verde do mar.
João me disse, por esses dias, que o mar que encontrou na primeira semana do ano o fez pensar em novos tons. Pintou uma pipa voando agarrada ao fio, com o céu ao fundo e os ventos leves tremulando a rabiola. Mas não deu muito certo. Me disse que o céu daqui é mais triste, o azul é mais tímido e não há o amarelo do sol. Algumas vezes já se interessou pelo roxo das noites de inverno, mas quer clarear. João está aflito em encontrar outras vias. Disse já ter misturado o azul marinho ao branco, ao amarelo, ao verde e até mesmo ao laranja. Já comprou azul-cobalto, azul-bebê, azul-turquesa e azul-celeste. Ainda não acertou.
Dia desses pensou em mudar as paredes de casa, mas lhe cansa o triste fardo de pintar sobre tijolos. Continua a reclamar a sensação de harmonia do salmão. Pálido, João não tem sentido fome, nem sede:
- Preocupação demais. Estou tenso.
Sempre tento acalmá-lo, mas me vem o velho medo da intromissão. Apenas digo que as coisas passam, é preciso somente acostumar-se, para que, de repente, o A vire B. João sempre ri. Odeia minhas metáforas, diz serem pobres, mas tento, apenas, facilitar e alinhar meus pensamentos.
João me disse, também, e eu já ia me esquecendo, que está pensando em desenhar casas e corpos deformados. Nada de esdrúxulo. Apenas para contestar padrões e formas.
- Só para jogar com o que podemos fazer.
Não entendi muito bem. Ele disse que pretende desconstruir, ir além, brincar. Quando disse isso, essa coisa de brincar, percebi que já era hora de ir, João já havia pensado em mais cores.