29 de dezembro de 2011

Gargalhadas

Fico rindo. Quando ando, fico rindo. Ando. Rindo.

A brisa suave de vento leve que enche o rosto. O cheiro adocicado das flores que brotam, das folhas que caem e do meu perfume a se desfazer. A chuva fina que embaça meus óculos, umedece minha roupa e enfeita meus cabelos. Os passos lentos e pesados. O corpo que pesa sem demonstrar o que sobra. A respiração funda que não condiz com os desejos. Os olhos, inconstantes e subjetivos, procuram o que não está. A cabeça: longe.

Fico andando e rindo do que queria ser, do que deveria ser, do que esperaria ser. Fico rindo não pelo gosto desgostoso de um fracasso, mas pelo inesperado. Ando para colocar em curso o que já não se aguenta mais parado. Calado.

Do sorriso no canto da boca, do vinco que se faz presente no canto do olho, da mão que vai a boca na tentativa de esconder, do dedo mordido, da unha roída em dose mínima, do pensamento que se quer outro. Da vontade, um passo firme para o desconcerto das ideias engalfinhadas.

Andei rindo de ti, das suas soluções tão equivocadas, das tuas limitações tão questionáveis, dos teus sofrimentos tão amenos, das tuas conquistas tão desgastadas, dos teus sonhos tão infrutíferos. Andei rindo de ti e de mim. Andei rindo dos meus defeitos tão insuperáveis, dos meus devaneios pouco trafegáveis, dos meus insultos tão risíveis, dos meus pavores tão ridículos. Ando rindo, ainda hoje, dos meus e seus e nossos.

Para não parar, não estagnar, não atrofiar, não desmanchar e deixar tudo à mostra, ando ficando onde estou. Aos risos fico calado. Mas quem por mim passa, logo percebe. Estou em revoada aqui dentro.