23 de dezembro de 2011

Transcrição 002

Me chamo Zilda. Tenho 57 anos, dois filhos homens e uma menina. Miguel tem 35 anos, Marcos 32 e Marina 25. Meu marido se chama Rubem e é bancário. Eu sou do lar. Mas já fui vendedora. Quando casei, há 35 anos atrás eu era vendedora numa butique de uma senhora muito fina. Casei e parei de trabalhar fora. Hoje eu só trabalho em casa. E é muito trabalho. É muita coisa pra fazer, muita roupa pra lavar, muita comida pra fazer. Eu sempre fico pensando o que vou fazer no almoço do dia seguinte. O Rubem almoça meio-dia, em ponto. Ele gosta de comida leve. É desses que cuida da saúde. Ele sai de manhã cedo pra caminhar. Às vezes eu vou com ele. A gente caminha por uma hora e depois volta. Aí eu tomo banho, ele também. Eu vou pra cozinha e começo a pensar no almoço. Ele vai pro trabalho. Volta só pra almoçar e é rapidinho. Os meninos nenhum casou. O Miguel namora já tem quase dez anos. Namora com Anália, uma moça muito boazinha, bonita e educada. Ele já disse que quer casar, mas precisa terminas os estudos. Eu acho um barato essa coisa dele gostar de estudar. Hoje em dia é difícil ver alguém que goste de estudar. Ele gosta. E só estuda. Vive da bolsa da faculdade. Num me dá trabalho nenhum. O Marcos também não. O Marcos é muito caladão. Na dele. Formou em administração e também trabalha em banco. Mas não é gerente ainda não. O pai já é. O Marcos vai da casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Fala pouco e tem poucos amigos. É muito introspecto (assim que escreve?). Acho que namora pela internet, mas num fala com a gente não. O pai fica espremendo o menino pra ele contar as coisas mas ele não gosta de dividir com a gente, não. A Marina já é diferente. Tá formando agora em nutrição. Adora sair. Namoradeira que só ela. Sai quase todo dia. Não sei como que o dinheiro do estágio dura tanto. O pai dela dá uma mesada, mas já falou que ano que vem vai parar. A Marina é a cara do pai. E o Rubem adora pajear ela. Tem uma coisa com ela que você precisa de ver. Mas o bom da Marina é que ela é muito educada. Vai se dá bem na profissão. Sinto isso. Eu sou muito de sentir as coisas. O Rubem fala que eu só não sou mãe de santo por que conheci ele antes. Talvez seja verdade. Eu sou feliz no meu casamento. Amo meus filhos e adoro ficar em casa. Sai um pouco com a Sandra, minha irmã. A Sônia, a outra irmã, não mora aqui. Mora no Rio. Eu e a Sandra vamos no shopping, no centro da cidade. Gosto de tomar café fora de casa. Mas nem tô tomando muito porque tô tentando parar de fumar. O Rubem me enche o saco, mas eu bem que gosto do meu cigarrinho. Tomar uma cervejinha no fim de semana e fumar um cigarrinho. Gosto da vida assim, boba, sabe? Gosto de viver pros meus filhos e pro meu marido. Acho que a gente deve cativar esse amor. A vida só faz sentido se a gente tem o nosso perto da gente. Não é mesmo? Eu sinto isso desde criança.



Transcrito por Vera D. S.





Todas as transcrições foram feitas pelo projeto Renascer, financiado pelo Governo Federal e realizado pelo Centro de Apoio Renée Michel. O projeto é desenvolvido por mulheres atendidas pelo CARM, que transcrevem e em seguida debatem entrevistas feitas com mulheres de variadas nacionalidades, faixas etárias e grupos sociais. As entrevistas são feitas com voluntárias, que devem responder a uma série de perguntas agrupadas num mesmo parágrafo e cujas respostas devem ser feitas num outro parágrafo sem auxílio de números, mas num padrão textual. São disponibilizadas duas folhas, apenas, às entrevistadas que redigem as questões à caneta de tinta vermelha. Iniciado há 101 dias, o projeto conta, até o presente momento com 42 entrevistas.


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