Dona Sara mandou chamar. Mandou dizer pra ir correndo. Pediu que leve Lola.
- Tô aqui. O quê a senhora quer?
- Nada não. Tô sozinha. Fica comigo, deixa a Lola brincar lá fora. Num me deixa sozinha, não.
Fiquei. Deixei de sair e fiquei. Fiz a companhia da noite, da manhã seguinte e da tarde que se seguiu. Fiquei e fiquei. Por anos, ao lado de minha tia, já velhinha, já sozinha, já doente. Por longos anos, Lola brincou lá fora. Mexia em árvores, cantava, pulava corda, ria, brincava e brincava e brincava.
Já adulta, Lola resolveu entrar. Devia sentir fome.
Como a achar normal, trancou, com duas voltas na chave, a porta do quarto. Saiu e nos deixou a criar mais e mais raízes naquela casa, naquele cômodo que exalava o forte odor de história.