15 de maio de 2012

Maria das Dores Silva

Na unha, não apenas a porta que cerrou, mas o desespero curto que se encerrou em dor. Nos cabelos, o rápido instante de juventude já findada, as marcas de quando, ao espelho, sorria. No rosto, um risco murcho se dizendo satisfeito. No peito. Ah! No peito uma dor. A dolorosa certeza de um fim acertado há tempos. Nos tempos de criança, nas horas velozes da adolescência e nos rastros de algum adulto, a visão das cortinas a fechar. A vida como um verbo. A morte como um processo.
Estou a acabar.
Acabo na unha. Acabo nos cabelos. Acabo na imagem, por ora falsa, que faço de quem me acompanha.Acabo aos poucos. Acabo na cabeça já fraca, nos pensamentos já finos de tão famintos. Acabo na ausência de fome de prosseguir.