13 de maio de 2009

MUDEZ

Aquele cego, pequeno cego era incrivelmente deficiente. Escutava bem, sua voz era bela e potencialmente alta, suas pernas eram eficientes como os braços, mas ele não costumava usar seus dons. Além da falta de visão, aquele homem não tinha vida em seu corpo. Já havia visto há muito tempo, mas somente hoje reparei como era possível ser aquele senhor um homem tão doente.
Sua doença começava quando dependia dos outros. Pegar ônibus, atravessar ruas era sacrifício imenso, doía-lhe as vísceras. Não sei se por vergonha, timidez, humildade ou até mesmo bobeira, ele pedia com a cabeça tão baixa que me lembrava um cão contrariado.
Ao esperar o ônibus levava aos mãos no rosto. Não tinha vistas para tampar o sol com as mãos. Não tinha sequer dor, pois reparei muito bem em sua sadia aparência. E ia tão bem que morava em um dos melhores bairros. Talvez Ele tivesse lhe tirado o potencial dos olhos, mas por remorso, dado-lhe bastante dinheiro para, como muitos fazem, ver com os bolsos.
Aquele cego, que não mascava chicles e nem mudou minha rota, era um bicho. Um bicho que fala e se ineferioriza, um bicho que a todo momento sabe onde pode ou não mijar, um bicho mediocremente bandido.
Acredito mesmo que seja o homem mais metódico do mundo, que chore todas as noites por se achar o lixo e o asco do mundo. E é. É pequeno porque só olha para baixo e fala baixo. Talvez se falasse alto e virasse mais a cabeça fosse um pouco maior e mais interessante. Faltava-lhe postura, e isso não depende dos olhos.
Que ele não se justifique pelos olhos! Seus olhos eram o mais interessante nele, e coincidentemente, o que lhe faltava. O que ele não tinha era o que mais me prendeu os MEUS OLHOS.
O que tem essa coisa, meu Deus?!
Não. Ele não deve ter mulheres. Mulheres não procuram homens pequenos, mulheres querem homens que tenham abraços divinos, que seus braços sejam longos e quentes cobertores, que arrotem e não peçam desculpas, que coçem o saco e depois acaricem suas mulheres. Mulheres não querem bichos.
Talvez ele tenha família, até porque essas pessoas orgulhosas tem que ser as pessoas mais dependentes. Tomara que tenha que pedir para limparem sua bunda. Tomara que tenha que clamar 100 vezes por água no breu de seu quarto. Tomara que seja lento como na rua.
Aquela postura me incomodou. Não me mechi para ajudá-lo, senão, pegaria pelo braço e mandaria - Grita!, Grita! Fala alto! Porra! - eu queria bater nele. Não ajudei porque não queria ajudar, queria mudar sua mudez.