8 de janeiro de 2010

Antônio

"Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado." (Caio Fernando Abreu)


Antônio, tira o pé do sofá e vai trabalhar. Vai fazer alguma coisa, Antônio. Pelo amor de Deus, Antônio, toma um jeito na vida, cara. Desse jeito não dá. Você, aí, o dia inteiro nesse sofá, parado, assistindo televisão. Televisão emburrece, viu, Antônio?! Ontem a Diana me falou que leu que televisão muito tempo faz mal pra vista. Sai daí Antônio. Um pé na bunda e fica assim. Pára com isso, cara. As coisas não são assim, não. Se valoriza. Li um livro ano passado que falava isso: você tem que se valorizar para que alguém te valorize também. Tô seguindo à risca. E se você está pensando que eu tô sozinha e infeliz, tá enganado. Tô sozinha por escolha, cara. Sai, Antônio. Vai ver a rua. As lojas já estão lindas com os enfeites novos de Natal. Vai ver o movimento, Antônio. Eu vou desligar a televisão. Viu?! Desliguei a televisão e você nem reclama. Você tá louco, Antônio. Esse cara não te merece, meu filho. Pára, Antônio. Vai respirar, Antônio. Fica aí, com esse vermelho escorrendo do peito. Você já está fedendo, Antônio. Antônio? Antônio! Antônio.