29 de novembro de 2011

Invernal

Do frio que embaça a janela do carro fechado, que sugere o mínimo de três cobertores, que racha os lábios e queima o rosto, que esfria a comida entre o prato e a boca, e que mata dois mendigos a cada dia, metade de todo esse frio sai de mim. A outra metade, não sei. Talvez alguma corrente, que suponho mais fraca do que a que me prende aqui fora.

Agora chove, mas mesmo que se faça uma torrente, não será maior que o líquido que escorre em meu rosto, jorrando dos olhos vermelhos e caídos.

Balanço as mãos e as guardo no bolso. Estou indeciso. Pressinto. Pressinto errado. Pressentia a morte, mas não sou velho e doente o bastante. Todo o sentimentalismo é uma frente . Fria.